Instituto de Oftalmologia de Assis | 3 de julho de 2019

A importância de cuidar e fazer o uso correto das lentes de contato – Relato –

Ela teve doença causada por lente de contato: “Dor era tanta que decidi tirar o olho.”

FONTE: Priscila Carvalho – Do UOL VivaBem, em São Paulo – 24/06/2019

 

Veja esse relato impressionante de uma pessoa que teve uma doença séria, por conta da falta de cuidados com as lentes de contato.

Marcela usa hoje uma prótese interna e externa no olho esquerdo

 

Marcela Monferdini, 35, sofreu com uma doença rara por quase dez anos por mau uso da lente de contato. No seu relato abaixo, ela conta como foi o processo, que serve de alerta para que as pessoas não negligenciem os cuidados com o produto: “Eu sempre usei lente de contato porque sofria com miopia.

 

Um dia, em 2007, quando estava com 23 anos, acordei com o olho bem inchado. Joguei água achando que limpar melhoraria o problema, mas nada diminuiu o inchaço.

 

Passei uma semana com o problema no olho – pensando que era uma irritação – quando decidi procurar um oftalmologista. O médico achou que era herpes e recomendou remédio para tratar a doença. Porém, os sintomas não melhoravam e meu olho não deixava de doer e ficar vermelho.

 

Quase dois meses depois eu ainda estava com o incômodo. Fiquei 30 dias sem sair de casa, melhorei um pouco e fui curtir o Carnaval. Mas meu olho não parava de doer e procurei outro médico, que disse que eu tinha um bichinho muito chato e difícil de curar, mas não deu nenhum diagnóstico preciso. Ele receitou corticoides, o que mascarou a doença.

 

O problema persistia e meu olho não melhorava de jeito nenhum: coçava o tempo todo, ficava vermelho e parecia sempre que estava com areia. No meio disso tudo, já havia emagrecido doze quilos, pois não conseguia me alimentar normalmente, e adquirido sensibilidade à luz.

 

Um dos médicos me recomendou o uso de uma lente de contato terapêutica e no começo ela pareceu ter resolvido o problema. No entanto, depois de duas semanas, ao retirá-la no consultório, meu olho estava completamente branco. Fiquei desesperada e não acreditei no que estava acontecendo.

 

 

Depois de sete médicos e cinco meses de muita investigação, descobriram que eu estava com ceratite, uma inflamação na córnea. No meu caso, o problema foi causado pela Acanthamoeba, um protozoário encontrado na água que aderiu à lente de contato e penetrou no olho.

 

O médico me alertou que o diagnóstico foi feito tarde demais e disse que o problema era grave.  Ele disse ainda que o parasita gostava de lugares úmidos e que usar lentes de contato em piscina, durante o banho e não higienizar direito com produtos específicos aumentam o risco do problema. Comecei a lembrar e, de fato, eu tinha pouco cuidado com a lente, mas não imaginava que poderia chegar a esse ponto.

 

“Algumas vezes, minhas lentes tinham

pontinhos pretos. Porém, como o produto

para lavá-la era caro, ignorava a ‘sujeira’

e as usava mesmo assim.”

 

O médico receitou um medicamento importado da Inglaterra e disse que, se não melhorasse, teria que optar pelo transplante de córnea. Fiz o tratamento por quase um ano e parecia que estava dando tudo certo, quando surgiu um pontinho preto no meu olho e comecei a piorar.

 

Ao me examinar, o médico foi categórico e disse que precisaria de um transplante de córnea. Entrei para a fila e consegui fazer a cirurgia em alguns dias, pois meu caso era gravíssimo. No dia seguinte, meu organismo já rejeitou a nova córnea e provocou catarata e glaucoma. Os médicos já não sabiam mais o que fazer. Estava pingando oito colírios nos olhos e sentia uma dor insuportável neles que atingia a cabeça, não tinha mais forças para nada.

 

 

Descobri na internet uma médica especialista em doenças raras de córnea e a procurei, na esperança de resolver meu problema. Na primeira visita ela já cortou todos os remédios que eu estava usando e focou em outro tratamento. Um dia, comecei a vomitar a cada seis minutos, sem parar. Mediram a pressão do meu olho e estava muito alta, a ponto de ele quase ‘explodir’. Tinha desenvolvido glaucoma novamente.

 

Tive que passar por um segundo transplante de córnea para tratar o glaucoma e a catarata. Depois desse procedimento, o olho rejeitou a córnea novamente. Quando tratava o glaucoma, o olho rejeitava a córnea, ficava sempre assim. Eu já estava no meu limite.

 

Estávamos fazendo de tudo e já realizado inúmeras cirurgias, tratamento com laser, colocado pedaço de placenta, tudo. Sentia muita dor, cheguei aos 30 anos me sentindo uma fracassada.

 

Não tinha emprego, larguei a faculdade,

tudo por causa do meu olho. Minha vida

estava parada por causa do problema.

 

Como a dor era insuportável, eu decidi tirar o olho. Como já tínhamos testado de tudo e nada deu certo, achei que essa era a melhor solução. Alguns médicos tentaram me impedir e tive que ir atrás de um laudo que mostrava que recorri a diversas técnicas, todas sem sucesso.

 

 

Após essa burocracia, autorizaram o procedimento e retirei meu olho com um cirurgião plástico ocular. Depois que tomei essa decisão, foi vida nova: prestei concurso público, terminei a faculdade, casei e pude ser feliz. Hoje, uso uma prótese interna de polietileno e uma externa que é para fins estéticos.

 

Embora tenha sofrido muito, o problema serviu para que eu alertasse outras pessoas da importância de cuidar e fazer o uso correto das lentes”.

 

O que é a doença?

A ceratite (ou queratite) é uma inflamação da córnea, a camada transparente que protege os olhos. O problema pode ser causado por secura, lesão física ou química e micro-organismos como vírus, fungos, bactérias, protozoários, como a Acanthamoeba. O parasita é encontrado no solo, no mar, em rios e lagos, piscinas, hidromassagens e até em água encanada, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA). A doença provocada por ele geralmente se manifesta em indivíduos que usam lente de contato, pois ao expor o produto à água contaminada a Acanthamoeba adere a ele e depois “passa” para a córnea.

 

Como evitar o problema?

Apesar de rara, a ceratite provocada pela Acanthamoeba é considerada umas das mais graves infecções de olho. Para evitar o problema é importante seguir corretamente as instruções de uso das lentes de contato. Isto é:

• Limpar as lentes corretamente e com produtos específicos após o uso;

• Substituir as lentes no tempo indicado pelo fabricante;

• Trocar o estojo das lentes pelo menos de três em três meses;

• Evitar tomar banho ou entrar na água do mar, rios, lagos, piscinas e banheiras de hidromassagem com as lentes.

 

Sintomas

Os sinais são leves no começo: incômodo no olho, inchaço e vermelhidão. No entanto, evoluem de forma gradual e piorando o quadro. A pessoa começa a ficar com dores fortes nos olhos que atingem a cabeça, pálpebra inchada e sensibilidade à luz. O ideal é que o paciente procure o médico em no máximo três dias depois do surgimento dos primeiros sintomas, ou quando houver intolerância à lente de contato.

 

Tratamento

Em muitos casos, ao descobrir o problema a recomendação é o paciente utilizar colírios por até quatro meses. Há ainda a opção de realizar um procedimento chamado crioterapia, que tem o objetivo de congelar e matar o parasita. Já em situações graves, como a de Marcela, os médicos optam pelo transplante de córnea. No entanto, o problema pode passar para a córnea transplantada.

 

Fonte: Denise de Freitas, professora adjunta livre docente do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)…. – Veja mais em https://vivabem.uol.com.br/noticias/redacao/2019/06/24/ela-teve-doenca-causada-por-lente-dor-era-tanta-que-decidi-tirar-o-olho.htm

 

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