Instituto de Oftalmologia de Assis | 19 de janeiro de 2020

Hábito de fumar e as doenças oculares

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo, responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis; 85% das mortes por doença pulmonar crônica (bronquite e enfisema), por 30% dos diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado), por 25% da doença coronariana (angina e infarto) e por 25% das doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral). O oftalmologista Paulo Elias C. Dantas alerta que o fumo está associado a um fator de risco para oftalmopatia de graves, glaucoma, catarata e degeneração macular relacionada à idade, levando à cegueira irreversível em muitas delas.

 

A fumaça do tabaco é considerada o mais importante poluidor de ambientes fechados no mundo desenvolvido. Há mais de 4.000 substâncias na composição da fumaça do tabaco; a maioria cancerígena, como o 1,3-butadieno, o acrilonitrilo, o benzeno, o benzopireno e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. As substâncias indutoras de inflamação mais importantes e identificadas na fumaça do tabaco são a acroleína, o formaldeído e solventes como o estireno e o fenol. Dependendo do tipo de tabaco usado, encontram-se também metais como o níquel, o cádmio, o arsênico e ferro, que, inalados em quantidades abundantes e cumulativas, são potencialmente tóxicos aos humanos.

 

Na literatura médica são citadas várias alterações da superfície ocular em fumantes, como diminuição do tempo de quebra do filme lacrimal (tempo em que a lágrima permanece íntegra no olho), mudanças na camada lipídica do filme lacrimal (parte oleosa da lágrima), diminuição da produção basal de lágrima (necessária para lubrificação dos olhos no auxílio em mantê-los livres da poeira), diminuição da sensibilidade da córnea e da conjuntiva, diminuição da concentração de fluído lacrimal e desenvolvimento de tecido adiposo na conjuntiva.

Nos casos em que o fumante usa lentes de contato, existem grandes chances de desenvolvimento de infiltrados de córnea, quando comparado a usuários de lentes não fumantes. Pessoas que usam lentes de contato e fumam têm risco maior de desenvolver uma doença chamada ceratite ulcerativa (um tipo de infecção na córnea), independentemente do tipo de lentes de contato que usam.

Doença do sistema nervoso associada a perdas características de campo visual, em que a hipertensão ocular é fator de risco maior, o glaucoma está associado à perda irreversível da visão. “Segundo estudos recentes, há uma fraca correlação entre o hábito de fumar e o glaucoma”, esclarece o especialista. O hábito de fumar pode ser um dos fatores ambientais que afetam negativamente o nervo óptico, aumentando o risco de glaucoma.

Um estudo da ação do humor aquoso (líquido incolor entre a cavidade do olho, a córnea e o cristalino) demonstrou um aumento de até 5 mmHg na pressão intraocular imediatamente após fumar. Isso indica que é possível que os vasoconstrictores seletivos gerem um aumento da pressão dos vasos epiescleral, impedindo o fluxo normal de escoamento do humor aquoso.

O paciente que fuma e é diabético está ainda mais vulnerável. Isso porque há um efeito aditivo negativo do ato de fumar que se associa às alterações vasculares induzidas pelo próprio estado hiperglicêmico. O tabagismo é mais um dos muitos fatores de risco, que incluem idade avançada, traumatismo, inflamação intraocular persistente, radiação ultravioleta, diabetes mellitus, hipoparatireodismo, administração prolongada de corticosteroides e índice de massa corpórea elevado. A catarata apresenta relação epidemiológica com o hábito de fumar, na forma dose dependente e cumulativa.

 

“Catarata nuclear tem forte associação com o hábito de fumar cachimbo, maior até que com o de fumar cigarros. Há quem defenda que o excesso de fumaça do cachimbo possa causar danos direto ao cristalino, tanto pela entrada direta dos produtos de combustão e condensação do tabaco nos olhos quanto pelo contínuo aumento da temperatura próxima ao cristalino.”

 

Dr. Paulo Elias Dantas, oftalmologista.
Dr. Paulo Elias C. Dantas é oftalmologista e professor de Oftalmologia do Setor de Córnea e Doenças Externas do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São Paulo.

Fonte: (Revista Veja Bem)

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